Elétrica 2012

Sinopse Elétrica nasce no espaço interno da galeria e avança para o seu exterior. Fios de alta tensão surgem das paredes do prédio, atravessam as janelas e criam um lugar de repouso e observação. Um som constante e incomum também invade o espaço e extrapola os limites demarcados.

Clarissa Campolina Como começar um texto sobre ‘Elétrica’? Devo escrever sobre o conceito? O processo? Dizer das subjetividades envolvidas em sua criação?  E a forma, como desenhá-lo? Existindo a partir das incertezas, o texto - forma e conteúdo - vai se fazendo assim como a obra, a partir do encontro de diferentes artistas, da rede de parcerias - condição primeira de existência da SIMBIO - e do desejo de uma escrita em conjunto. A proposta da Simbio me levou a trabalhar com outros meios, sair da minha zona de conforto, abandonar as imagens em movimento.  A dificuldade do projeto era acompanhada da bela sensação de ser livre e poder experimentar algo novo. A liberdade de me arriscar em outros meios fez acordar um desejo antigo, um desejo de desenhar no espaço - com matéria física e sonora -,  o que possibilitou o surgimento da Elétrica. Agradeço o convite, as trocas e as parcerias estabelecidas ao longo de todo o processo.

Joana Hardy + Antônio Valadares A instalação reflete seu processo construtivo. A trama de fios que arrebenta, conecta e constrói espaços é de certa forma espelho do processo colaborativo que resultou neste trabalho.  Primeiro veio Clarissa, com uma idéia estruturada, junto dela Luana que fazia com que essas idéias fossem acontecendo em matéria, e o Grivo que preenchia esta matéria com som. Fios são condutores de ondas de diversas impedâncias, e o trabalho dos arquitetos e da equipe de montagem se deu mais ou menos assim – conectando subjetividades de naturezas diversas, transformando-as em desenho e em seguida, no objeto construído.

Marcos Moreira Marcos * O Grivo De meu posto de observação, vejo um monte de fios entrarem pela janela, subirem ao teto, descerem e se abandonarem partidos no chão. Não por acaso estou sentado nos fios. Um banco de fios a desafiar a audiência a parar, sentar, sentir. Dou a volta. Entro na galeria. Fios e mais fios. Em meio a tantos fios, algumas lâmpadas e um som, que talvez, pudesse ser um gerador de energia.O gerador de energia: mantra da sociedade contemporânea. Energia que se transforma.  Som que se transforma. Energia que se dissipa. Som que se dissipa. Som das muitas freqüências do gerador de energia. Um multi-acorde sonoro. Som que extrapola os limites demarcados. Lugar que extrapola os limites demarcados. Uma coisa leva a outra. Fios levam a energia de um lugar a outro. Fios quebrados não levam nada a lugar algum. Confio na idéia de que nada está pronto, nada está acabado. Arquitetura sem nome, sem número, sem... Eco de buracos no teto, de fios partidos no chão.

Luana Melgaço Elétrica está cercada pela delicadeza. Os objetos suspensos em volta nos fazem perceber uma tonelada de fios com uma leveza contraditória. A brutalidade da invasão, a confusão urbana transposta para a galeria, o exagero e a destruição. Em meio ao caos, sou transportada para um lugar distante e me perco no tempo sentada num banco de fios no jardim do palácio. A musica estranha me faz transitar entre a paz e o transtorno. Já não me importa a duvida, a incerteza, a falta de crença. Já me esqueci da logística, das dificuldades, dos custos e da produção. Reconheço o desafio que me motivou e me amedrontou. A obra é o resultado das redes afetivas, da amizade, da parceria, da troca. O desejo da Clarissa toma forma nas mãos dos arquitetos Joana e Antonio, se transforma em som com o talento do Grivo, se torna concreto na colaboração da equipe da Teia e da Simbio.